Por detrás das Marcas

Família Margaça

Família Margaça, situada bem no centro da Aldeia de Pias, entre Serpa e Moura, foi fundada em 1973, inicialmente como Sociedade Agrícola de Pias, com o principal objectivo da produção de vinhos. É essa paixão pelos vinhos que preenche boa parte da narrativa da Família, que complementada com uma marca própria de Azeite, também com o nome Família Margaça.
Responde-nos às perguntas o Director Financeiro e Gestor de Projectos da Família Margaça, Bruno Sousa.  
 

Azeite do Alentejo: Qual a história por detrás da marca Família Margaça?
Bruno Sousa: Tudo começou com a fundação da Sociedade Agrícola de Pias, ainda em 1973, por José Veiga Margaça, um homem apaixonado pela terra e pelo trabalho. Durante décadas dedicou todo o seu tempo a pensar novas formas de fazer de vinho, sempre com uma visão contemporânea e inovadora – sobretudo para a época. Nas herdades que adquiriu, localizadas entre Serpa e Moura, no extremo oriental do Alentejo, iniciou um intensivo processo de reestruturação das vinhas, organizando-as por parcelas e castas, renovou a adega, oferecendo-lhe o melhor da tecnologia e rodeou-se de gentes da terra, a quem gerou emprego e riqueza.
Lançou o primeiro vinho engarrafado em 1988 – o Encostas do Enxoé -, que viria a confirmar-se um sucesso de vendas desde a primeira colheita e vencedor de inúmeras distinções e medalhas. Nos anos seguintes reforçou o seu portefólio, ganhou prémios e criou toda a logística de distribuição, transformando a Sociedade Agrícola de Pias numa empresa autónoma e vários dos seus vinhos em referências do mercado português – que ainda hoje mantêm uma enorme reputação.
Por motivos de saúde, o Sr. Margaça viria a afastar-se do projecto que, felizmente, se manteve até hoje nas mãos da família, mantendo o carácter familiar da empresa. Em 2015, Luís Margaça, actual administrador, desafiou-me para o projecto da família. Entrei, assim, para ajudar em alguns projectos, com especial incidência sobre o sector do olival. Dois anos depois, assumi pasta financeira e a pasta de projectos e investimentos. Graças a uma empenhada equipa de grandes profissionais, conseguimos executar e implementar um musculado plano de reestruturação da Sociedade Agrícola de Pias, dando continuidade à visão estratégica inovadora e contemporânea do seu fundador. Os primeiros anos foram de grande foco na parte produtiva, diversificando os investimentos, e actualmente contamos com 3 culturas na herdade, a vinha, o olival e o amendoal.
Em 2016 com a entrada de um novo elemento, Renato Neves (viticultor e enólogo), foi possível arrancar com execução da reestruturação e modernização do actual e do novo sistema de rega, que agora engloba além da vinha e olival já existentes, também o novo olival e amendoal, cobrindo portanto toda a herdade. Fez parte do grupo de trabalho do projecto de modernização do parque de máquinas e equipamentos da herdade, assim como da parte operacional. Responsável também por cruciais propostas de investimento tecnológico e operacionais na adega, que combinados com as melhorias na herdade e aliados a um novo conceito enológico, nos permitiu partilhar este ano com o lançamento da nova marca “Família Margaça”, uma nova forma de homenagear o terroir único de Pias, colocando os seus vinhos num novo patamar de preço e junto de um novo perfil de consumidor. Tudo isto sempre com a missão de continuar “A Honrar Pias como uma legítima origem alentejana, desde 1973”.

Az.A: Quais os seus principais objectivos?
BS: : Neste momento, e após a execução do rigoroso plano de reestruturação da empresa, um dos principais objectivos é o crescimento da nova marca, – “Família Margaça” – no mercado nacional em 2020, que para já conta com uma interessante gama de vinhos no seu portefólio, cujo rebranding da marca e dos vinhos de todos os segmentos são da assinatura do atelier de design Rita Rivotti. Apesar dos constrangimentos provocados pela pandemia do Covid-19, acreditamos que a nova marca está a ser muito bem recebida pelo mercado e contamos com parceiros de excelência no campo da distribuição. Iremos também estudarmercados internacionais, no sentido de crescer também lá fora. Queremos continuar a aposta nas vendas online, um projecto que acabou por sair da gaveta mais cedo que o previsto, mas que está a dar-nos bons indicadores para o futuro.
Por outro lado, pretendemos alargar a nossa oferta de produtos e serviços ainda este ano. Até ao momento, os nossos esforços têm estado centrados no vinho, mas temos já temos um plano para a adição ao portefólio da marca “Família Margaça”, uma gama de azeites de azeitona dos nossos olivais. Pretendemos também investir em programas complementares de enoturismo, para voltar a colocar Pias num merecido lugar de destaque no mapa de Portugal.

Az.A: Qual o balanço da campanha oleícola 2019/2020 e expectativas para a próxima?
BS: Em termos gerais, fazemos um balanço muito positivo da última campanha.
Temos na herdade, olivais dedicados à produção de azeitona para azeite, 140 hectares. Nos 55 hectares actualmente em produção, registámos mais de 630 toneladas de produção de azeitona de alta qualidade de variedades nacionais – Cordovil e Cobrançosa.
Na próxima campanha, temos previsto atingir mais do dobro da produção do ano anterior, a que se deve sobretudo a entrada em produção do novo olival instalado em 2018. Futuramente com o novo olival em plena produção e o olival existente, esperamos obter produções médias de azeitona a rondar as 1.600 toneladas de azeitona por ano, que graças à grande competência e capacidade técnica da equipa responsável pelo lagar parceiro na extracção, prevemos extrair uma média de 240 toneladas por ano de azeite de grande qualidade.

Az.A: Considerando a situação actual, quais entende que serão os principais desafios para o sector oleícola causados pelo COVID19? E para a Família Margaça em particular?
BS: Penso que as quebras estão principalmente nas referências premium, expostas à quebra de vendas na restauração e exportação, o que prejudica quem mais faz pela valorização do azeite. É uma situação preocupante, mas ainda assim, não é uma situação que veio para ficar.
Parece-me que as maiores preocupações com o futuro do sector oleícola chegaram ainda antes do COVID-19. Tem se confirmado uma notória perda de força do agricultor na cadeia de valor, agravado pelos elevados níveis de stock de azeite de bons anos de produção do principal produtor, Espanha, que representa 50% da produção mundial. Desde há duas campanhas, os agricultores voltaram a viver anos magros de preço do granel, e a manter-se as actuais variáveis, a tendência é a manutenção destes preços. Esta é uma realidade transversal a todos nós agricultores, que nos obriga a repensar a forma como olhamos os nossos olivais.
Com os actuais preços de mercado, as receitas dos olivais mais antigos não chegam para fazer face aos custos de produção, e muitos dos agricultores acabarão por abandonar os seus olivais menos rentáveis e das duas uma, ou irão investir em olivais modernos mais rentáveis, ou irão optar por outras culturas mais interessantes financeiramente. Há uma mudança de paradigma na produção de azeitona para azeite, com novas variedades estrangeiras a assumir uma importância muito grande pela adaptabilidade, dentro do novo conceito de plantação de alta densidade e de colheita mecânica semelhante à vinha, com redução de até dois terços dos custos de colheita.
Na visão e estratégia da Família Margaça, a manutenção das variedades nacionais é cada vez mais difícil, e torna-se importante, para não dizer fundamental, um parceiro que valorize essas variedades, assim como também nós façamos investimentos na promoção e valorização dessas variedades através da nossa marca, pois a sobrevivência das variedades nacionais passa claramente pela sua valorização na garrafa. Consideramos muito importante a modernização e optimização das metodologias de cultivo, e isso é visível no nosso novo olival. É imperativo a preocupação ambiental assim como a melhoria da qualidade dos nossos solos, não só para a continuidade do negócio para as próximas gerações, mas como para a produção de qualidade, o que transforma a natureza dos nossos desafios em questões sobretudo técnicas. Temos confiança que temos técnicos extremamente competentes para nos ajudar a conseguir atingir esses objectivos.
Por outro lado, também nos deparamos com a complexidade da comunicação digital. Mais do que promover os nossos produtos, reconhecemos a importância de sensibilizar o consumidor para os benefícios do azeite, associada a uma dieta mediterrânica, mas também para a sua versatilidade de consumo, é fundamental educar o consumidor para a compra de azeites de elevada qualidade como, também, um investimento para a sua mesa.

Az.A: Que mensagem deixa aos consumidores?
BS: Aos nossos consumidores apelo a que, mais do que nunca, comprem produtos portugueses. Somos os principais embaixadores da nossa cultura, da nossa gastronomia, do nosso território e é necessário que, neste contexto mais desafiante, possamos estar juntos na recuperação da nossa economia. Em particular, apelo a que continuem a consumir os vinhos e azeites portugueses, dois produtos que, pela sua excelência e elevada qualidade, têm partilhado o nome de Portugal por todo o mundo.

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